Afetos

Participo de muitos grupos de zapzap, essa praga que nos assola definitivamente mas que, algumas 3 vezes, vale a pena. Em um deles, recebi(emos) a provocação de escrever sobre AFETOS, sob qualquer ótica, para fazer parte de uma newsletter comunitária (se você quiser receber também, assine aqui). Enviei a "versão curta" (que está replicada no meu Instagram), mas quero deixar registrada aqui a minha "versão estendida", porque essa palavrinha, afeto, tem me rondado também há muito tempo, não consigo não reconhecer os pequenos e os grandes afetos que me envolvem e me acompanham – e me dão sentido na vida.

Afeto pelos filhos, que sempre reagem às minhas questões, com destaque para a minha caçula, que se revelou uma companhia incrível nesses quase 2 anos de pandemia. A vida tem sido mais suave por causa de sua empatia, compreensão, diversão, até mesmo seu cheiro (ela é vegetariana, nunca vi alguém tão naturalmente cheirosa assim!). Afeto pelo sabonete Phebo do banho de todo dia, pelos perfuminhos e creminhos, pela cerinha nutritiva de passar nas unhas, pela possibilidade de poder pagar uma faxineira que deixa minha casa limpa e cheirosa toda semana, pela roupa lavada com sabão líquido e água quente, pela manga na fruteira, pela flor de maracujá cheirosa no quintal... Como chama alguém que tem tanta questão com cheiro assim?

Afeto pela Milou, cachorrinha que adotamos em plena pandemia. Ela tá sempre fedida e bafuda, mas eu a amo profundamente! Vai entender…

Afeto imenso pelos meus irmãos, pela trajetória de vida que desenhamos e nos fez chegar até aqui inteiros, íntegros, amorosos, respeitadores, no ritmo e estrutura possível, apesar das dores e tropeços. Afeto pela menina serena, promessa de futuro. Às vezes, afeto por alguns medíocres que ainda estão por perto – quando eu consigo relevar a burrice alheia, por que sou dessas, paciência, tudo tem limite.

Afeto pelos amigos resilientes, aqueles que, mesmo na m*rda (e quem não estaria, no meio de uma pandemia e com um genocida criminoso gargalhando na nossa cara todo dia?), ainda assim mandam sempre um alô carinhoso, uma palavra de ânimo, um projeto de arte e/ou inclusão – dinheiro não, porque ninguém tem… mas a gente corre atrás, claro! Afeto pela minha amiga que fez aniversário esses dias e eu, meia-boca, nem liguei pra falar com ela. Perdão, C., amo você e desejo um ano mais suave!

Afeto pelos livros que me circundam, muito muito muito mais do que consigo dar conta de ler. Minha mesinha de cabeceira está quase desmontando de tanto livro empilhado, fora as prateleiras do estúdio! O que estou lendo atualmente: livro da outra amiga sobe cultura da paz (e é perfeitamente possível imaginar o texto saindo da boca dela); livro das mulheres que andam com lobos (relendo e, uau, fez tanto sentido de novo!); das deusas e as mulheres maduras (ma-ra-vi-lho-so); contos do Asimov (tinha emprestado pro sobrinho, ele devolveu, engatilhei na leitura); livros de zines (tô recomeçando a reler, vários, tirando da estante e revendo muita coisa); “Drinks”, livro que eu fiz (não é mole não, eu leio e eu FAÇO livros!!!). Qualé, gente, vai dizer que vocês não leem vários livros ao mesmo tempo?...

Afeto pelas minhas plantinhas espalhadas pelo quintal, inclusive a samambainha que eu trouxe da casa da minha mãe. Significa que eu tô conseguindo não matá-las de sede ou maus tratos (a samambainha eu matei, na verdade, ela que não quis morrer). Sério, hoje eu entendo o lance de conversar com as plantas e, rotineiramente, agradeço por elas não desistirem de mim!

Afetos me preenchem e me fazem perceber como sou sortuda, apesar dos desafios. Como lembraram no grupo, quero cada vez mais (só) falar/escrever sobre o que me faz feliz e ignorar solenemente o que me agride – exceto, talvez, o inominável, porque não podemos esquecer o terrível mal que ele e sua turma de aloprados nos impôs, melhor insistir em ter essa memória mesmo, pra nunca mais cair nessa esparrela.